Idealmente, correspondem à família e ao Estado o dever de fornecer educação de qualidade. Veja até onde a família pode ajudar a escola na imprescindível tarefa de educar por Cassiane Knopf e Janaina Cerutti
É sabido que o desempenho escolar individual de cada aluno depende
não apenas do seu rendimento em sala de aula e da competência de seus
professores, mas também, do apoio da base familiar que este aluno encontra em
sua casa. A relação entre família e estudos e, principalmente, a maneira como a
família de cada aluno se comporta em relação ao seu desempenho escolar,
influencia os resultados obtidos por crianças e adolescentes, independente de
classe social. Uma base sólida, com pais que se interessam e, até mesmo, ajudam
na execução das tarefas escolares faz com que este aluno renda mais em todos os
âmbitos de sua carreira escolar. Não basta apenas que os pais se preocupem e
estejam presentes nas horas de estudos - eles devem também ter a capacidade de
percepção para notar quando seu filho não está desempenhando adequadamente em
alguma matéria e buscar soluções: seja ajudando-os a estudar, ou mesmo
contratando professores particulares para que estas carências sejam supridas.
Estas atitudes, no entanto, podem ser difíceis, dependendo do
status social da família: nem sempre é possível que os pais tenham tempo
disponível para entender e ajudar em todos os problemas que seu filho esteja
encontrando na escola. Entretanto, isso pode ser remediado, se os pais
demonstrarem interesse em todas as tarefas realizadas por suas crianças ou
adolescentes.
É imprescindível para o sucesso escolar que a criança note que seus
pais buscam motivá-lo para obter este sucesso; de certa forma, os pais são a
força motriz para o estudo das crianças, e seu bom desempenho.
quando a família e a escola mantêm boas relações, as condições para
um melhor aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizadas.
Assim, pais e professores devem ser estimulados a discutirem e buscarem
estratégias conjuntas e específicas ao seu papel, que resultem em novas opções
e condições de ajuda mútua.
O envolvimento dos pais com a escola é essencial para a
aprendizagem de sucesso dos alunos. Não basta que os pais saibam que o filho
vai a todas as aulas e realiza as tarefas, eles precisam ter interesse no que
cada tarefa consiste, e mostrar que estarão ali, apoiando a criança ou
adolescente, independente de seu desempenho.
ATÉ ONDE IR
O grande problema nesta questão, no entanto, é saber a medida exacta
com que os pais devem, de fato, se envolver: a criança deve saber que pode
contar com os adultos responsáveis em sua vida para ajudá-la, mas jamais para
assumir suas responsabilidades. A problemática deste envolvimento são os pais
que, por exemplo, executam as tarefas para os filhos (resolvem seus deveres de
casa, pesquisam seus trabalhos para entregar) ou, quando estes falham em
executá-las, procuram o professor para tratar do assunto, ao invés de deixar a
criança assumir a responsabilidade pelos seus actos - como no clássico caso de
um aluno terminar o ano com notas baixas e o professor ser inquirido a
respeito, como se decidisse as notas arbitrariamente, e estas não fossem
resultado do esforço e da dedicação do aluno. Este tipo de envolvimento dos
pais é prejudicial, tanto no âmbito escolar - já que a criança não estará
realmente aprendendo o que a tarefa objectivava -, como no campo pessoal - uma
vez que o aluno não perceberá que suas acções têm consequências.
Segundo Epstein, há cinco tipos de envolvimento da família com a
escola. O Tipo 1 são as obrigações essenciais dos pais, como oferecer apoio
para seu desenvolvimento escolar, e auxílio quando possível nas tarefas mais
difíceis, que a criança possa não conseguir superar sozinha. O Tipo 2 são as
obrigações essenciais da escola, como oferecer diferentes métodos de
explicações e ensino, até que o aluno consiga absorver o que necessita aprender
de maneira adequada, sem que se sinta desvalorizado ou incapaz. Além disso,
entre as obrigações da escola está a de abrir espaço para que os pais exponham
também as suas opiniões e impressões sobre o desenvolvimento do currículo
escolar.
O Tipo 3 é o envolvimento dos pais em actividades de colaboração na
escola; por exemplo, envolver-se em feiras, festas, exposições, reuniões e
eventos escolares. O Tipo 4 é caracterizado pelo envolvimento dos pais em actividades
que afectam a aprendizagem e o aproveitamento escolar em casa, ou seja, o
auxílio que os pais prestam aos seus filhos na hora de desempenharem tarefas
longe da escola, seja actuando como monitores, tutores ou mediadores do
conhecimento, buscando, ou não, auxílio nos professores. O Tipo 5 é o
envolvimento dos pais no projecto político da escola, mostrando interesse nos projectos
desenvolvidos por esta, e activamente participando nas decisões e escolhas
destes projectos, e da actuação da escola na região em que está inserida.
Em síntese, os pais devem participar activamente da educação de
seus filhos, tanto em casa quanto na escola, e devem envolver-se nas tomadas de
decisão e em actividades voluntárias, sejam esporádicas ou permanentes,
dependendo de sua disponibilidade. No entanto, cada escola, em conjunto com os
pais, deve encontrar formas peculiares de relacionamento que sejam compatíveis
com a realidade de pais, professores, alunos e direcção, a fim de tornar este
espaço físico e psicológico um factor de crescimento e de real envolvimento
entre todos os segmentos.
É possível, enfim, concluir que a participação dos pais na carreira
escolar de crianças e adolescentes é, sim, imprescindível; mas, ao mesmo tempo,
é necessário que este envolvimento seja um envolvimento de qualidade -
ressaltando que o essencial é a qualidade do tempo em que os pais se envolvem
com a escola e não apenas a quantidade de tempo em que eles fazem isso.
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