Avançar para o conteúdo principal

CONVERSAR SOBRE A GUERRA

Perguntas e respostas para pais e cuidadores de crianças e jovens

INTRODUÇÃO

As notícias, as imagens e as conversas sobre a guerra estão por todo o lado. As crianças e os jovens perguntam-se e perguntam sobre o que significam. Os adultos questionam-se sobre o que lhes dizer e como comunicar acerca do assunto. A guerra pode afectar profundamente as crianças/jovens – a forma como pensam e sentem. Mesmo quando acontece a milhares de quilómetros de distância, pode colocar em causa a sua necessidade de ver o mundo como um lugar seguro e previsível. Os Pais e Educadores desejam protegê-los, mas simultaneamente encorajá-los a serem curiosos e experienciarem o mundo. Queremos que valorizem formas pacíficas de resolver os problemas e os conflitos e que descubram o que podem fazer para ajudar a transformar o mundo num lugar melhor. A melhor forma de o fazermos é disponibilizarmo-nos para escutar as suas preocupações, conversar e responder às suas questões.

AS CRIANÇAS NÃO VÃO SENTIR-SE AINDA MAIS ASSUSTADAS POR ESTARMOS A CONVERSAR SOBRE GUERRA?

Não. O essencial é escutarmos a criança/jovem e responder-lhe de forma sensível, procurando apoiá-la naquilo que está a pensar e a sentir. Por muito que conversar sobre violência, conflitos e guerra possa ser assustador e gerar medos, é ainda mais assustador pensar que ninguém pode falar connosco sobre esses sentimentos. Remetermo-nos ao silêncio e não conversar sobre temas difíceis ou que geram emoções e sentimentos desagradáveis, pode aumentar o receio da criança/jovem de que não seremos capazes de lidar com o assunto e cuidar dela/e. As crianças e os jovens precisam de saber que os adultos conseguem falar sobre temas e sentimentos difíceis e que estão dispo - níveis para as/os ajudarem a fazer o mesmo. Conversar sobre a guerra com as crianças e os jovens permite aos Pais e Cuidadores compreender o que sabem sobre o assunto, corrigir possíveis ideias erróneas, filtrar a informação a que acedem e como, abrir canais de comunicação (para esta e outras conversas) e, sobretudo, transmitir segurança e confiança.

COMO CONVERSAR SOBRE A GUERRA?

Conversar sobre a guerra com crianças e jovens pode ser, por si só, assustador e complexo. Algumas sugestões podem ajudar: Permitir à criança/jovem expressar os seus pensamentos e sentimentos. Dizer à criança/jovem que estamos disponíveis para os escutar e para falar sobre o assunto. Perguntar-lhe o que pensa sobre a guerra, se está assustada ou preocupada. Mesmo que respondam que “não”, estamos a dar-lhes indicação de que é natural que tenham esses sentimentos e de que podem falar sobre eles, se quiserem. Algumas crianças podem não ser capazes de falar sobre os seus pensamentos, sentimentos ou medos, mas podem sentir-se mais confortáveis em desenhar, brincar ou contar histórias directa ou indirectamente relacionadas com o que está a acontecer. É natural também que possam fazer as mesmas questões ou comentários repetidamente, até que a informação lhe faça sentido. Escutar e descobrir o que a criança/jovem já sabe. Mais importante do que explicar ou fornecer informação sobre a guerra, é ouvir o que a criança queira, espontaneamente, comentar ou questionar. A melhor abordagem é deixar as preocupações das crianças, nas suas próprias palavras, guiar a direcção e a profundidade da conversa. Embora também possamos suscitar as suas opiniões fazendo perguntas abertas – por exemplo, “Já ouviste falar sobre a guerra que está a acontecer?”. As crianças/jovens podem já ter contactado com informação acerca da guerra através dos meios de comunicação social, da escola ou dos amigos. Saber o que já sabem pode ser um bom ponto de partida para a conversa. Bem como estarmos atento/a ao que não dizem – as expressões faciais, os gestos ou tom de voz, por exemplo, também podem revelar emoções.

Validar os sentimentos da criança/jovem. É importante comunicar à criança que compreendemos que o que está a acontecer nesta situaçao de guerra é confuso e complicado. Não sentimos como grande ajuda quando alguém nos diz “Não te preocupes!”, acerca de algo que nos preocupa, por isso, devemos evitar dizê-lo às crianças e jovens. Por exemplo, dizer “Pareces triste quando falamos sobre isto. Eu também estou triste”, comunica à criança que os seus sentimentos são naturais, compreensíveis e que o adulto se sente de forma semelhante e está a aprender a lidar com isso. Não julgar a criança/jovem pela forma como se sente, mesmo que nos pareça fazer pouco sentido. Se não compreendermos algo, devemos mostrar respeito e pedir que explique novamente.

Evitar estereótipos. Seja qual for a nossa opinião sobre a guerra ou os países envolvidos, devemos evitar imagens e linguagem que polarizem, colocando em oposição “os bons” e “os maus”, os “do lado certo” e “os inimigos”, os “países bons” e os “países maus”. É igualmente importante não esteriotipar grupos de pessoas pela sua pertença cultural, nacionalidade ou religião. Pelo contrário, esta pode ser uma oportunidade para promover a tolerância e a compaixão, o respeito por todos e pela diversidade, , bem como explicar o que são preconceitos e estereótipos. No caso das crianças mais velhas, podemos ainda ajudá-las a compreender que a guerra traz consequências – individuais e sociais – para ambos os lados. 

Conversar sobre a complexidade da guerra pode encorajar os jovens a serem mais empáticos e sensíveis aos diferentes pontos de vista. Utilizar a conversa para encorajar a discussão de outros temas. Uma conversa sobre a guerra pode evoluir para uma conversa sobre outras questões difíceis de resolver na nossa vida. Podemos utilizá-la para estimular o desenvolvimento das crianças e jovens noutras áreas. Por exemplo, podemos aproveitar para falar sobre como ajudar pessoas que não conhecemos, ou como resolver situações de conflito ou bullying. Encorajar comportamentos pró-sociais. As crianças e os jovens podem sentir-se mais seguras e confiantes quando sentem que podem fazer algo para ajudar. Por isso, podemos encorajar os seus comportamentos pró-sociais, debatendo hipóteses de ajudar e fazer a diferença (por exemplo, fazer doações de bens materiais para instituições que ajudam crianças que estão a vivenciar situações de guerra ou escrever uma carta aos decisores políticos ou ao jornal local). Um dos primeiros passos pode ser também aprender mais sobre o assunto e organizar um grupo de discussão junto de colegas ou pessoas da comunidade. 

 A guerra pode afetar mais umas crianças do que outras. É natural que se sintam confusas, perturbadas ou ansiosas. No entanto, alterações duradouras do comportamento e do sono, preocupação constante com o assunto e medo da morte, podem constituir sinais de alerta. . Nesse caso, é importante procurar ajuda – um Psicólogo ou Psicóloga podem ajudar. As crianças e os jovens aprendem a lidar com a adversidade e com o que acontece à sua volta observando a forma como os adultos das suas vidas o fazem. Por isso, é importante sabermos que a forma como respondemos ao stresse e comunicamos sobre a temática da guerra, vai influenciar a reacção das crianças e jovens de quem cuidamos. É natural que também nos sintamos ansiosos com a guerra e podemos dizer à criança/jovem que também sentimos medo – sem a sobrecarregar com as nossas emoções, mas sim focando-nos na forma como estamos a lidar com esses sentimentos. Nós, os adultos, podemos modelar a ideia de que existem, de facto, coisas muito difíceis e assustadora no mundo, mas também que podem ser ultrapassadas (e como). 

IMPORTANTE Não precisamos de ter todas as respostas. Não precisamos de ser especialistas num assunto para ouvir o que as crianças/jovens pensam e sentem. Para além disso, pensar sobre uma situação complexa em conjunto pode ajudar as crianças mais velhas a lidar com sentimentos ambivalentes e pensamentos ambíguos: “Isso é uma questão interessante e eu não sei a resposta. Podemos pensar nisso em conjunto. O que é que tu achas?”. Este processo de procura e debate de ideias e informações também ajuda a demonstrar às crianças e jovens que é possível com- preender o que acontece à nossa volta e encontrar soluções para os problemas. Também pode ser vantajoso dizer algo como “Eu não sei a resposta e não tenho a certeza que alguém saiba... Mas sei que muitas pessoas no mundo estão a esforçar-se para compreender e resolver este assunto”.


Ainda assim, sugerimos algumas PISTAS DE RESPOSTA A ALGUMAS DAS QUESTÕES MAIS FREQUENTES: 

O QUE É A GUERRA? A guerra acontece quando os países ou grupos de pessoas não concordam sobre algo importante para todos, mas usam meios violentos para lutarem uns com os outros. Pode haver guerras entre países diferentes ou guerras entre grupos de pessoas de um mesmo país. Infelizmente, sempre existiram guerras. 

O AVÔ E A AVÓ ESTÃO BEM? Sim, os avós estão bem. Eles vivem muito longe do local onde está a acontecer a guerra. Queres ligar-lhe para falares com eles? (É comum que crianças de todas as idades imaginem um risco imediato para os seus familiares e amigos). 

TAMBÉM NOS VÃO ATACAR A NÓS? A guerra está a acontecer longe de nós, por isso não precisas de te preocupar com ataques ou bombas a destruir a nossa casa. Vamos continuar todos juntos. (É comum que crianças de todas as idades imaginem um risco imediato para si próprias). 

PORQUE É QUE HÁ PESSOAS QUE MATAM OUTRAS PESSOAS? Não tenho uma resposta para essa pergunta, também não entendo. De facto, nenhuma pessoa devia matar outra e todos devemos contribuir para que isso não aconteça. 

PORQUE É QUE EXISTEM GUERRAS? As guerras podem acontecer por muitas razões. Por exemplo, um país pode achar que não tem território ou recursos suficientes e podem tentar obtê-los retirando-os, à força, de um outro país. Mas também podem acontecer porque um país quer “impor a sua forma de pensar e ver o mundo”. 

O NOSSO AMIGO/ FAMILIAR VAI MORRER? Preocupa-te que lhe aconteça alguma coisa e já não o/a voltemos a ver, não é? Estamos todos preocupados. Mas o nosso amigo/ familiar não está sozinho e há muitas pessoas a tentar protegê-lo/a. Vamos esperar que ele/a volte para casa, em segurança, o mais rapidamente possível. (Sobretudo se um familiar da criança/jovem está realmente em perigo, não é adequado minimizar a preocupação da criança/jovem, nem dar-lhe uma certeza – “vai ficar tudo bem” – que nós próprios não temos. É preferível reconhecer e partilhar dos seus receios.

Mostrar que é possível corrigir e reparar os nossos erros. Quando as crianças/jovens realizam acções que prejudicam outra pessoa, é importante conversarmos com ela, ajudando-a a assumir a sua responsabilidade, a pedir desculpa e a perceber como pode reparar o dano que causou (“o que é que podes dizer ou fazer para ajudar a/o tua/teu amigo/a a sentir-se melhor?”). Demonstrar os passos necessários para resolver um problema. Às vezes, no desejo de os proteger, tentamos resolver os problemas da crianças e jovens, por eles, oferecendo soluções rápidas. No entanto, é mais útil quando as ajudamos a aprender e a seguir passos importantes: Valorizar os esforços e as competências de não violência. É importante reconhecer e valorizar os esforços das crianças e jovens para resolverem conflitos ou problemas sem recurso à violência, para expressarem as suas emoções de forma saudável, para compreenderem e ajudarem os outros. É importante falar com as crianças e jovens sobre os esforços que nós, enquanto comunidades e sociedades, podemos envidar para promover e construir diálogos, pontes, justiça e paz.

PASSOS IMPORTANTES

1) identificar o problema (fazendo questões simples que ajudem a definir o problema) 

2) avaliar diferentes soluções possíveis (encorajando a pensar no maior número de soluções possíveis, nas vantagens e desvantagens de cada uma) 

3) experimentar uma solução (recordando que se a solução escolhida, porventura, não resultar, existem outras) 

4) avaliar o resultado (ajudando a pensar sobre o grau de satisfação e as consequências da opção escolhida)

  

GAAF



Comentários

Mensagens populares deste blogue

Dádiva de Sangue 2 de Dezembro de 2008

Com os objectivos de sensibilizar para a importância de dar sangue e angariar novos dadores decorreu na EB 2/3 de Prado a 1ª Dádiva de Sangue deste ano lectivo (a 2º será durante a Semana da Saúde, em Maio), no dia 2 de Dezembro. A dinamização esteve a cargo dos Professores dos sub -departamentos de Físico Química e Ciências com a imprescindível colaboração do Instituto Português do Sangue. Pela sala de recolha desfilaram ao longo da manhã professores, auxiliares de acção educativa, funcionários administrativos e pais que, com o seu gesto solidário quiseram ajudar quem precisa, sabendo que o sangue é um bem precioso que poderemos compartilhar, enriquecendo quem dá e que recebe… Todos os dadores receberam como lembrança um pequeno coração com uma mensagem alusiva e puderam registar uma mensagem pessoal num placard elaborado com muitos corações, que pretende representar todo o acto de amor que a dádiva de sangue implica.

Cultivar Mindfulness em contexto educacional...terninou a formação mas não a ação...

Terminou no passado sábado a ação de formação  "Cultivar Mindfulness em contexto educacional" um projeto na área da Educação que propõe transformar a vida dos professores, das crianças e dos jovens, através do desenvolvimento de programas de aprendizagem sócio-emocional baseados nas práticas de  mindfulness . Tem-se verificado um interesse crescente pela utilização das abordagens baseadas no  mindfulness  em contexto educacional, especialmente nas que são dirigidas aos alunos. Estas intervenções configuram-se como um caminho essencial para a promoção da saúde e bem-estar dos mais jovens, estando associadas ao aumento de comportamento pró-sociais, à redução de problemas de comportamento e à melhoria dos resultados académicos.    Segundo Joana Carvalho , a nossa excelente e experiente   formadora, "ao professor pede-se que disponibilize a todos os alunos suporte emocional, promova um ambiente de sala de aula acolhedor e estimulante, seja u

A importância de "pensar fora da caixa"...

Concluíram-se hoje as sessões promovidas pelo CLDS 3G de Vila Verde em colaboração com o GAAF que, com os alunos do 6ºano, procuraram ajudá-los no desenvolvimento de  competências básicas associadas a atitudes empreendedoras: iniciativa, trabalho em equipa, persistência, motivação e  organização . As sessões de hoje foram dedicadas às turmas do 6ºA e do 6ºB. Através do visionamento de pequenos vídeos que despoletaram o diálogo sobre a temática e a concretização de algumas ideias-chave, foi proposta a realização de uma atividade prática, na qual os alunos colocaram à prova alguns dos conceitos abordados, e que neste caso, seria a organização de  uma visita de estudo (escolha do local, objetivos a atingir, como angariar a verba necessária, como minorar os gastos, etc...). Seguiu-se uma chuva de ideias, nem sempre tão assertiva quanto seria de esperar de  jovens desta idade e referidas algumas das questões menos agradáveis que podem advir de uma iniciativa deste género